quarta-feira, 18 de março de 2009

ALDEIA INDIGENAS - PARAIBA

A FUNAI também é responsável pelo território situado no lado esquerdo do estuário, cuja Reserva Indígena atinge os Municípios de Marcação, Mataraca e Jacaraú. Sendo assim, as localidades situadas em área de Reserva Indígena são denominadas de aldeias, possuem um Cacique local eleito pela comunidade e um Cacique geral, além do chefe da FUNAI. Quanto à gestão do território propriamente, existem os convênios com as prefeituras no que tange a educação, saúde e policiamento, e a obediência às determinações do IBAMA, quanto às normas para a pesca e a utilização de embarcações. A autoridade máxima é o chefe da FUNAI, e ao Cacique geral cabe coordenar os caciques locais e organizar a Festa de São Miguel, uma festa de todas as aldeias indígenas, que ocorre a partir de 28 de Setembro e dura sete noites, sendo uma festa cristã com novenas e a dança indígena conhecida por Toré. As populações ribeirinhas do estuário vivem da pesca do peixe e da cata do caranguejo e do marisco. No entanto, a quantidade pescada vem diminuindo muito nos últimos 20 anos. As causas apontadas pelos ribeirinhos são o assoreamento do rio, que acabou com os grandes peixes e diminuiu a profundidade do rio; a pesca em rede miúda, que prejudica a reprodução; e a redinha, técnica predatória de pesca de caranguejo que, apesar de proibida, ainda é praticada. Marcação é um Município novo, emancipado recentemente e abrange todas as comunidades pesqueiras do lado esquerdo do estuário: Marcação, Brejinho, Tramataia, Camurupim e Coqueirinho. A seguir, confira algumas peculiaridades de cinco aldeias localizadas nesta área.
Jaraguá - Aldeia indígena de 900 eleitores, Jaraguá fica próxima ao Rio Tinto, no final da área de manguezais. Metade da população trabalha na Usina Japungú, Município de Lucena. O restante trabalha em Rio Tinto, e poucos ainda vivem da pesca no local. Esta atividade, enquanto fonte de sobrevivência, é mais praticada entre os desempregados. Atualmente os peixes mais encontrados são o bagre, o camurim, o robalo, a pescada, a carapeba e o caranguejo, que, com a prática desenfreada da redinha, vem desaparecendo. A técnica de pesca mais utilizada é a tomada. No entanto, a economia flutua de acordo com a disponibilidade de empregos, sendo a pesca uma tradição e importante fonte de alimento. A aldeia possui escola de 1º e 2º graus, posto de saúde, com enfermeira, Associação de Moradores e
» Vilarejo em Jaraguá
posto telefônico. A água vem de poços e não é encanada. A maioria das moradias é de taipa, pois o cacique local, Vicentinho, não permite construções de alvenaria, sendo esse o maior conflito da aldeia atualmente, já que muitos moradores anseiam pela casa de alvenaria. A Associação possui dez canoas para os pescadores cadastrados. A vegetação é de mangue canoé, o mais alto, e o mangue manso, de raízes escondidas. Nesta área observa-se a transição da vegetação, já que é o limite da área de influência de marés oceânicas. A partir de Porto Novo, aparece o mangue sapateiro, de raízes expostas, que se prolonga até a foz.

» Brejinho

Brejinho - Aldeia indígena com 53 famílias, onde todos trabalham no mangue catando caranguejo. Cacique Edmilson explica que o lixo é reciclado para ser reaproveitado na plantação e que isso é uma prática indígena. Seu pai, de Vila- Flor no Rio Grande do Norte, era Potiguara legítimo. Dos habitantes das aldeias, muitos são 'particular', isto é, brancos. Apesar da pesca ser praticada por todos, a principal fonte de renda da comunidade é a agricultura, sendo as culturas locais o inhame, a macaxeira, o feijão, a cana e o coqueiro. Brejinho fica numa área bastante úmida e de solos férteis, que garantem a agricultura sem o uso de agrotóxico, já que não houve até então disseminação de pragas. As árvores mais encontradas são mangueiras, coqueiros, cajueiros e algumas jaqueiras. Cada família ganha em média 30 reais com a pesca
de caranguejo e, nas épocas das safras, quem tem plantação aumenta a renda. Brejinho tem uma escola e uma casa de farinha, não tem telefonia, posto de saúde e comércio. A moradia é de taipa e a eletrificação chegou há apenas dois anos. Interessante em Brejinho são as poças naturais de água cristalina, onde o solo é arenoso. Nelas as pessoas fazem suas atividades cotidianas, como lavar verduras, louça e roupas, além de tomar banho.
» Tramataia

Aldeia com 230 famílias, onde quase todas vivem da pesca de peixe, caranguejo e marisco por todo o estuário. O transporte é a canoa, conhecida por patacha, que difere da canoa comum porque é feita de tábuas coladas com estopa e cal, enquanto a outra é feita de uma madeira só. A água e a areia do rio são utilizadas para construção. Esta aldeia tem a festa de São Sebastião, em janeiro. Parte da população é católica e parte protestante. No entanto, o casamento religioso não é prática comum. Possui uma benzedeira, Dona Santina Maria da Conceição. O tocador de coco é Miguel de Alice, e o cantador local é Manuca. Possui dois times de futebol e torneios. O caranguejo é a principal fonte de renda dos ribeirinhos. Existe um roçado da reserva onde se planta inhame, mandioca, feijão e milho. As duas casas de farinha são de particulares e o pagamento é de 20% da farinha produzida. Parte da farinha é vendida na feira de Rio Tinto, às sextas-feiras. Quanto ao peixe, quem tem refrigerador pode juntar e vender na feira; quem não tem, entrega ao atravessador por três reais o quilo e este é vendido por seis na feira. A renda média de uma família por semana é de 30 a 35 reais. São 20 aposentados na comunidade. Tramataia possui duas escolas, sendo uma creche e uma de 1º grau. Tem posto de saúde sem condições de atendimento. Não tem telefonia. A água vem do poço e é de boa qualidade, passa por um cano central e as casas puxam deste cano. As moradias são de taipa, havendo em torno de dez que são de alvenaria. Possui uma Associação de Moradores e cinco vendas. Como em todas as aldeias, banheiro não existe. O lixo é queimado nos quintais, mas caminhando à beira do rio, pode-se observar o mesmo espalhado em suas proximidades. Existem poucas árvores frutíferas e os pássaros existentes são os de mangue: maçarico, garça, socó, siricóia, lambú, sabiá e pardal que dizimou o canário. O problema maior da comunidade é não ter capital para investir em plantação e diversificar a renda que provém exclusivamente da pesca. Em Tramataia faz-se passeio de barcos para turistas para as seguintes localidades: Projeto Peixe Boi, arrecifes, ilhas e mangues, sendo o fluxo turístico de dezembro a março.

» Camurupim - Barcos de Pesca
Camurupim - Aldeia com 302 famílias, sendo sete em Coqueirinho. Setenta por cento das famílias vivem da pesca, na área na foz e no alto mar, e de catar marisco, atividade praticada nas croas que aparecem na maré baixa, por mulheres e crianças. Os peixes mais pescados são camurim, pescada, carapeba, bagre, arraia, pampo e tainha. Existem cinco barcos motorizados da Associação de Moradores. Em Camurupim, o turismo também é explorado, mas não há infra-estrutura de hospedagem. A festa da padroeira Santa Luzia é nos dias 12 e 13 de Dezembro. No dia 29 de Junho tem procissão de barcos em homenagem a São Pedro. A aldeia possui um sanfoneiro e uma banda de forró. As bandas de fora, no entanto, são mais apreciadas. Nos festejos juninos têm coco de roda e ciranda. As patachas são feitas na serraria local. De acordo com depoimentos locais de pescadores, de vinte anos para cá o rio vem esbarrancando rapidamente e perdendo profundidade. A pesca é a principal atividade, mas pratica-se a agricultura de subsistência e o plantio da cana para a usina de Mataraca. Cada família tem um pedaço nas terras da Reserva. Existe também área de broca, ou seja, de retirada de madeira para a queima doméstica. A maioria das famílias possui criação de galinhas. A renda familiar é de 25 a 30 reais por semana, sendo a população aposentada de 40%. Camurupim possui uma escola de 1o grau, um posto de saúde, de correios e telefônico. A água é encanada e vem do poço. Existem 10 vendas. O trans-
porte para Baía da Traição circula três vezes por semana, e para Rio Tinto, todos os dias, passando por Tramataia. A FUNAI possui um projeto para implantação de banheiros nas aldeias. A taipa é a moradia que predomina, mas as de alvenaria também existem. A Associação de Moradores serve para beneficiar a pesca e a agricultura. Existe também uma
olaria. A caça é pouco praticada e os animais são lambú, juriti, galega, tejuassú, tatu e raposa. Atualmente o IBAMA não permite a caça. Antigamente havia cotia, guariba, preguiça, tamanduá e quati, mas a devastação das matas para o plantio de cana foi acabando com os animais na região. Coqueirinho - Comunidade que pertence a Camurupim, com vinte e cinco pessoas e que vem se expandindo muito nos últimos três anos com a proliferação de casas de alvenaria para veraneio. A comunidade, porém, vive da pesca, praticada entre os arrecifes e a praia, cujo destino maior é a própria subsistência. Não entra renda na comunidade, a não ser a aposentadoria, e quando aparece uma

» Camurupim
- Associação de Moradores
construção, é para empregar a população local. Não possui nenhuma infra-estrutura, sequer eletricidade, e o acesso é feito de barco. As moradias são de taipa e palha de coqueiro. Os veranistas estão organizando uma associação. O pequeno povoado possui uma Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes com mais de cem anos, sendo a sua festa, em Dezembro, bastante procurada por pescadores de várias aldeias e localidades. As árvores existentes são o coqueiro, cajueiro, cajarana, laranja, pitanga, groselha, etc. O acesso a Coqueirinho se dá por Camurupim, através de patachas, ou por Baía da Traição, pela praia e por estrada.